História de Guimarães
A cidade de Guimarães está historicamente, associada à fundação da nacionalidade e identidade Portuguesa. Guimarães (entre outras povoações) antecede e prepara a fundação de Portugal, sendo conhecida como "O Berço da Nação Portuguesa". Aqui tiveram lugar em 1128 os principais acontecimentos políticos e militares, que levariam à independência e ao nascimento de uma nova Nação. Por esta razão, está inscrito numa das torres da antiga muralha da cidade “Aqui nasceu Portugal”, referência histórica e cultural de residentes e visitantes nacionais.
Pré e Proto-História
editarA região em que Guimarães se integra é de povoamento permanente desde pelo menos o Calcolítico Final nacional, como atestam a presença, no município, das citânias de Briteiros e de Sabroso ou a Estação arqueológica da Penha. Estes mesmos povoados foram romanizados pela ocupação romana que fundou outros novos povoamentos.[1]
A Ara de Trajano denuncia a utilização, pelos romanos, das águas termais da vila de Caldas das Taipas.
Da fundação de Guimarães à fundação de Portugal
editarApós a intervenção política de reconquista organizada pelo Reino das Astúrias, com a intervenção do fidalgo Vímara Peres ainda no remoto século IX, a fundação medieval da moderna cidade tem as suas raízes no remoto século X. Foi nesta altura que a condessa Mumadona Dias, viúva de Hermenegildo Gonçalves, mandou construir, na sua propriedade de Vimaranes, um mosteiro dúplice, que se tornou num pólo de atracção e deu origem à fixação de um grupo populacional conhecido como vila baixa. Paralelamente e para defesa do aglomerado, mandou construir um castelo a pouca distância, na colina, criando assim um segundo ponto de fixação na vila alta. A ligar os dois núcleos formou-se a Rua de Santa Maria.
No século XI Guimarães era, a seguir a Coimbra, conjuntamente com o Porto a maior cidade[2] a norte do vale Rio Tejo, sendo que o seu recinto amuralhado ocupava a área de 3 hectares.[3]
Posteriormente o Mosteiro transformou-se em Real Colegiada e adquiriu grande importância devido aos privilégios e doações que reis e nobres lhe foram concedendo. Tornou-se num afamado Santuário de Peregrinação, e de todo o lado acorriam crentes com preces e promessas.
A outorga, pelo conde D. Henrique, do primeiro foral nacional (considerado por alguns historiadores anterior ao de Constantim de Panóias), em data desconhecida, mas possivelmente em 1096,[4] atesta a importância crescente da então vila de Guimarães, escolhida ainda como capital do então Condado Portucalense.
Em 1127 Guimarães foi cercada por D. Afonso VII, para terminar com a tentativa de revolta liderada por D. Afonso Henriques, e exigir que este se torne seu vassalo.[5] Aqui se daria, a 24 de Junho de 1128, a Batalha de São Mamede. Em 1131 D. Afonso Henriques faz de Coimbra o centro da monarquia nacional, posição que até então pertencia a Guimarães.[6]
Idade Média
editarComo a vila foi-se expandindo e organizando, foi rodeada parcialmente por uma muralha defensiva no reinado de D. Dinis. Entretanto as ordens mendicantes instalam-se em Guimarães e ajudam a moldar a fisionomia da cidade,[7] tendo a Ordem Franciscana fundado, por volta de 1217, um eremitério em Guimarães.[8] Posteriormente, os dois polos fundem-se num único e após o derrube da muralha que separava os dois núcleos populacionais no reinado de D. João I, a vila intramuros já pouco mudará, expandindo-se extramuros com a criação de novos arruamentos como a Rua dos Gatos.[9]
Nos princípios da Guerra Civil de 1211 a 1216, que opôs a monarquia à alta nobreza, D. Afonso II teve de se refugiar em Guimarães quando os revoltosos tomaram Coimbra.[10] Pouco depois, ordenou que as milícias do concelho de Guimarães e Coimbra atacassem as culturas do Arcebispo de Braga após este o ter excomungado, o que constituiu um significativo episódio do conflito entre o monarca e o clero.[11]
Em 1250, o rei D. Afonso III reuniu cortes em Guimarães, onde o clero denunciou os graves problemas de banditismo e desordem no país, além dos abusos por parte dos funcionários régios.[12] Em 1288 voltaram a ser feitas cortes em Guimarães, onde se discutiu principalmente o assunto das Inquirições gerais.[13]
Durante a segunda na segunda Guerra Fernandina, de 1372 a 1373, que opôs o rei D. Fernando I de Portugal a D. Henrique II de Castela, as milícias dos concelhos de Guimarães e do Porto tentaram impedir uma incursão espanhola em território nacional, mas acabaram sendo derrotados.[14]
Idade Moderna e Contemporânea
editarEm 1638 ocorreu um motim em Guimarães contra o domínio espanhol, tendo os revoltosos chegado a tomar conta da cidade.[15] Em 13 de Dezembro de 1640 ocorreu um novo movimento em Guimarães, contra o corregedor.[16]
Haverá ainda a construção de algumas igrejas, conventos e palácios, a formação do Largo da Misericórdia (presente Largo João Franco) em finais do século XVII e inícios do XVIII, mas a sua estrutura não sofrerá grande transformação. Será a partir de finais do século XIX, com as novas ideias urbanísticas de higiene e simetria, que a vila, elevada a cidade, pela Rainha D. Maria II, por decreto de 23 de Junho de 1853,[17] irá sofrer a sua maior mudança.
Será autorizado e fomentado o derrube das muralhas, haverá a abertura de ruas e grandes avenidas como o moderno Largo de Martins Sarmento, o Largo da Condessa do Juncal e a Alameda de São Dâmaso, e a parquização da Colina da Fundação. No entanto, quase tudo foi feito de um modo controlado, permitindo assim a conservação do seu magnífico Centro Histórico.
No dia 1 de Maio de 1960, a cidade de Guimarães foi um dos principais focos das greves dos trabalhadores, contra a falta de liberdade sindical e as graves condições de vida.[18]
A 28 de Junho de 2013 a Cidade de Guimarães foi feita Membro-Honorário da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.[19]
Ver também
editarNotas
- ↑ de Jesus da Costa, Avelino (1981). Congresso Histórico de Guimarães e sua Colegiada - 850.° aniversário da Batalha de S. Mamede (1128-1978) (PDF). III. [S.l.: s.n.] pp. 136–137
- ↑ Assim chamada na fonte supracitada
- ↑ Cláudio Torres, “O Garb-al-Andaluz”, in José Mattoso, História de Portugal, Círculo de Leitores, Lisboa, 1992, vol. I, p. 397;
- ↑ António Matos Reis, O Foral de Guimarães- primeiro foral português-o contributo dos burgueses para a fundação de Portugal, in Revista de Guimarães nº 106, Guimarães, 1996, pp. 55-77;
- ↑ CAPELO et al, 1994:25
- ↑ CAPELO et al, 1994:26
- ↑ Correia, Jorge. Da herança construída no concelho de Guimarães (PDF). Guimarães: Hereditas - Atlas da Paisagem Cultural de Guimarães. p. 3-4
- ↑ CAPELO et al, 1994:34
- ↑ Catarina Oliveira, Pesquisa de Património - Detalhe - Rua de D. João I, IGESPAR, acedido em 21 de Dezembro de 2010
- ↑ SARAIVA, 2021:106
- ↑ SARAIVA, 2021:107
- ↑ CAPELO et al, 1994:37
- ↑ CAPELO et al, 1994:42
- ↑ SARAIVA, 2021:151
- ↑ CAPELO et al, 1994:123
- ↑ CAPELO et al, 1994:124
- ↑ «Cidades Portuguesas(2002)». Consultado em 3 de outubro de 2006. Arquivado do original em 23 de maio de 2007, INE, acedido em 3 de Outubro de 2006
- ↑ CAPELO et al, 1994:359
- ↑ «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Cidade de Guimarães". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 9 de junho de 2014
Bibliografia
editar- CAPELO, Rui Grilo; RODRIGUES, António Simões; et al. (1994). História de Portugal em Datas. Lisboa: Círculo de Leitores, Lda. 480 páginas. ISBN 972-42-1004-9
- REIS, Francisco; GOMES, Rosa; Gomes, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- SARAIVA, José Hermano (2021) [1978]. História Concisa de Portugal 26.ª ed. Lisboa: Contraponto. 510 páginas. ISBN 978-989-666-296-7