LEUCEMIAS
As leucemias são condições na qual a medula óssea PATOGENIA: é uma doença de definição genético-
é substituída por um clone maligno de células molecular, de modo que a pessoa tem a translocação
linfocíticas ou granulocíticas. Desse modo, podem do cromossomo 9 e do 22, ou seja, t(9;22), o
ser classificadas em leucemias agudas linfocíticas ou que significa que é o cromossomo Philadélfia (Ph)
mieloide OU leucemias crônicas linfocíticas ou = presente em 90% dos casos. Isso acaba levando a
mieloide. fusão dos genes ABL1 (do cromossomo 9) e BCR
(do cromossomo 22), formando o gene quimérico
BCR-ABL1. Ou seja, a alteração transcitogenética
(translocação + genética) que leva a uma alteração
molecular (gene quimérico BCR-ABL1).
OBS: para descobrirmos se o paciente tem essas
alterações fazemos um PCR e depois a cariotipagem.
CLÍNICA: normalmente é um achado casual, de
forma que os pacientes vão fazer um exame de
rotina e assim apresentam uma hipercelularidade as
_________LEUCEMIAS MIELOIDE CRÔNICA_________
custas da linhagem mieloide (em 40% dos casos, os
Também chamada de LMC, é uma doença clonal pacientes são assintomáticos ao diagnóstico). Além
caracterizada pela proliferação de células mieloides disso, o paciente pode ter esplenomegalia – ausente
que mantem sua capacidade de diferenciação isso em <10% - (alguns tem sintomas de esplenomegalia
significa que temos poucos bastos (células – o baço tem uma ponta que pode crescer e atingir
imaturas), tenho uma mieloproliferação de células a região gástrica = sintomas gástricos), além de
normais (hipercelularidade). hemorragias, episódios trombóticos = trombocitose
(pacientes tem muitas plaquetas, mas elas não são
ETIOLOGIA: radiação (raios X = profissionais,
funcionais, por isso que pode acontecer episódios de
radiação atômica = acidentes nucleares), intoxicações
hemorragia e trombose) (priapismo), leucocitose.
por drogas (benzeno = posto de gasolina =
frentista) e/ou infecções viróticos (oncovirus = isso ALTERAÇÕES LABORATORIAIS: medula óssea
ainda é uma hipótese) hipercelular, leucócitos (até 1.000.000),
eosinofilia, basofilia, trombocitose = aumento das
INCIDÊNCIA: pode atingir qualquer faixa etária,
células da linhagem mieloide
sendo que é chamada juvenil quando o paciente já
nasce com LMC (diagnostico com menos de 1 ano FASES: a LMC pode ser classificada em três fases
de vida), de forma que é mais comum no sexo de acordo com o processo de progressão da doença:
masculino e é mais severa. Prevalência: 1-2
/100.000/ ano.
Fase crônica: apresentação clássica, apresenta QUADRO CLÍNICO: paciente na urologia fazendo
leucocitose (com desvio a esquerda), eosinofilia, pré-operatória para HPB (hiperplasia prostática
basofilia, esplenomegalia volumosa, benigna) muitos pacientes com HPB tem LLC.
hepatomegalia, além de discreta anemia e
PATOGENIA: proliferação monoclonal lenta dos
trombocitose. Essa fase pode durar muitos anos
linfócitos B maduros, sendo que os linfócitos
(5-6 anos)
leucêmicos ficam congelados entre o linfoblasto e o
Fase acelerada: evolução da fase crônica, é
linfócito maduro, de modo que vem acompanhados
quando ocorre a diminuição progressiva da
de muitos defeitos/distúrbios imunológicos.
diferenciação celular, aumentando blastos
(células imaturas) e piora das citopenias e DISTÚRBIOS IMUNOLÓGICOS: na fase inicial da
organomegalias (crescimento dos órgãos) doença, já há a produção de auto-anticorpos contra
paciente tem piora dos sintomas as células vermelhas/eritrócitos, levando a uma
Fase blástica (aguda): evolução da fase anemia hemolítica auto-imune (está em 20-30%
acelerada, é quando tenho mais de 20% de dos casos, sendo que pode ser diagnosticada com
blastos na medula óssea = nesse momento essa Teste de Coombs), sendo que a hemólise grave é
leucemia é como a aguda (linfoide ou mieloide). rara, e responde bem aos corticoides. Além disso,
pode ocorrer uma outra condição: purpura
DIAGNÓSTICO: é necessária a comprovação da fusão
trombocitopenica auto-imune, a qual é caracterizada
do gene BCR-ABL1 por meio citogenético ou
ela produção de auto-anticorpos produzidos contra
molecular.
as plaquetas, o que leva a trombocitopenia, isso
TRATAMENTO: inibidores da tirosina-quinase: também responde bem aos corticoides.
imatinibe, dasatinibe e nilotinibe = medicamentos
OBS: é importante entendermos que a
via oral = t(9;22) desaparece. Para pacientes
trombocitopenia pode ser causada pela substituição
refratários, a melhor opção é transplante de medula
da MO por LLC ou pelo sequestro esplênico, sendo
óssea alogênico.
assim, devemos diferenciar se é um mecanismo
_______LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA_________ auto-imune ou se é uma evolução da doença.
Também chamadas de LLC, é uma doença Outro distúrbio imunológico é o distúrbio na síntese
proliferativa de linfócitos imunologicamente de imunoglobulinas, que pode ser uma gamopatia
incompetentes, ou seja, não funcionam. monoclonal (pico monoclonal IgG ou IgM em 10%
dos pacientes com LLC) ou hipogamaglobulinemia
ETIOLOGIA: desconhecida, mas se acredita que é
(presente na maioria dos casos = estádios III e IV
uma predisposição genética
faz maior suscetibilidade a infecção bacteriana).
INCIDÊNCIA: aumenta com a idade, ou seja, tem
OBS: LLC (proliferação de linfócito) e mieloma
como idade média pacientes idosos com cerca de 65
múltiplo (proliferação de plasmócito) são “primas”.
anos. É mais comum em pacientes ocidentais e
países desenvolvidos. Mais comum em mulher.
Mesmo acometendo as faixas etárias mais velhas, pode
atingir faixas etárias mais jovens também.
ESTADIAMENTO: utilizamos RAI: linfonodos progressivos (não é o aumento de um
linfonodo que fica sempre lá, é aquele que aumenta
0 Linfocitose isolada = > 15.000
e não para de aumentar).
linfócitos no sangue periférico e >40%
de linfócitos na MO (VR: até 17%) ALTERAÇÕES LABORATORIAIS: linfocitose,
I Linfocitose e aumento dos linfonodos anemia, trombocitopenia, neutropenia (essas
(normalmente cadeia cervical superior, diminuições de células acontecem porque o corpo
são indolores e móveis e tem aumento
está tão focado em aumentar os linfócitos que
rápido)
direciona todas suas “forças” para lá, deixando de
II Linfocitose e hepato e/ou
produzir as outras – medula está invadida pelo
esplenomegalia
tecido linfoide – fases mais avançadas). Além disso,
III Linfocitose e anemia (Hb<11g/dL) +
pode ter alterações citogenéticas em 80% dos casos,
todos os anteriores
sendo a del(13)(q14) e a del(11q)(17p) as mais
IV Linfocitose e trombocitopenia
(plaquetas <100.000) + todos os comuns = importante sabermos isso para
anteriores direcionarmos o tratamento.
OBS: perceba que é uma doença progressiva ou seja,
TRATAMENTO: não vamos tratar todos os
ela vai evoluindo nos estágios pacientes, haja visto que essa doença é incurável,
OBS: até 4.000 linfócitos no sangue periférico sendo assim, apenas controlamos os sintomas do
indica uma infecção reacional. Acima de 4.000 paciente. Desse modo, o tratamento é empregado
ficamos de olho e com 15.000 = LLC de acordo com alguns sintomas, como:
SINTOMAS: 70% dos pacientes é assintomático no Sintomas relacionados a doença
momento do diagnóstico, ou seja, é um achado (hepatoesplenovolumosa, linfonodo cervical
ocasional em exames de rotina. Além disso, o grande, linfonodo no anel de Waldeyer, dor
paciente pode ter os sintomas B (sintomas que abdominal, sintomas B, ...)
aparecem em doenças que acometem os linfócitos = Transformação para linfoma agressivo (síndrome
febre, perda de peso – perda acima de 10% do peso de Richter é uma complicação com prognóstico
atual - e sudorese noturna), o qual nos da um a desfavorável, no qual a leucemia linfocítica
noção de que é uma doença sistêmica. Outrossim, crônica ou linfoma linfocítico pequeno se
devemos abrir os olhos para idosos com infecções modifica em um tipo de linfoma mais agressivo)
bacterianas de repetição e infecções virais, Presença de citopenias (tanto linfócito que tem
principalmente Herpes zoster (de repetição) muitas citopenias)
Presença de massa bulky (massas volumosas, por
Ao exame físico, conseguimos perceber aumento de
exemplo, no mediastino)
linfonodos, os quais são indolores (não flogísticos) e
Disfunção orgânica
móveis, ou também hepatomegalia e esplenomegalia.
Desejo do paciente
OBS: devemos tomar cuidado ao aumento dos
Performance Status (gravidade doença, perfil clincios e PS)
OBS: controlamos os sintomas, mas em algum momento a
doença volta, já que é incurável (o transplante de medula
óssea seria a cura, mas como a maioria dos pacientes é idoso,
esse processo é complicado e não é feito).
______________LEUCEMIAS AGUDAS_______________ com leucemia aguda = posso inferir que isso é LLA.
São doenças hematológicas malignas heterogêneas Outro sintoma comum é a dor óssea (blasto é uma
caracterizadas pela expansão clonal de células célula grande, feia, não diferenciada) = blasto cria
progenitoras (blastos) na medula óssea, sangue uma compressão no interior do osso em direção ao
periférico e outros órgãos. São divididas em leucemia periósteo, o que causa a dor. Essa é mais comum
linfóide aguda (LLA) e leucemia mieloide aguda no quadril, esterno e osso longos, de forma que só
(LMA). melhora quando começamos a tratar.
Sendo assim o acometimento de outros órgãos na INCIDÊNCIA: a LMA é mais comum no mundo
LLA (mais sistêmica) é SNC, ovário e testículo, já (entre as agudas), entretanto, há um padrão
na LMA é menos SNC e envolvimento órgãos alvo (nesse padrão é o que ocorre com mais frequência,
(fígado, baço, ...). não excluindo a possibilidade de ser do outro tipo):
ETIOLOGIA: desconhecida (“surge do nada” = início LLA: 75-80% das leucemias na infância e em
súbito), mais comum em homens, aumenta com torno de 25% no adulto
idade e classe social elevada. Além disso, essas LMA: média de idade 65 anos, 80% das
doenças tem um risco maior relacionado a doenças leucemias em adultos.
como Síndrome de Down, Bloom e Wiskott-Adrich,
OBS: LLC é a leucemia mais comum no mundo
anemia Faconi e agamaglobulinemias (maior
(adultos e crianças), LLA mais comum na infância e
incidência de LA). Outrossim, a radiação aumenta
LMA mais frequente no adulto
o risco em período de 15 anos após exposição (+
comum é LLA). DIAGNÓSTICO: o diagnóstico é feito em diversas
etapas, de forma que primeiro diferenciamos a
As leucemias também podem ser secundárias ou
leucemia em aguda ou crônica, e posteriormente, em
relacionados ao tratamento (quimioterapia +
linfoide ou mieloide.
radioterapia) para linfomas, mieloma, câncer de
mama (RxT) e ovário (LMA). Também pode ser Um hemograma de leucemia aguda apresenta anemia,
causada por agentes alquilantes (drogas que leucopenia e trombocitopenia + blastos circulantes
diminuem a contagem de leucócitos = ex: (se tiver 1% de blastos circulantes no sangue
hidroxiureia). periférico = posso dizer que é uma leucemia aguda)
= leucose aguda.
QUADRO CLÍNICO: composto por uma tríade:
sintomas da síndrome anêmico (fadiga, dificuldade OBS: um paciente pode ter uma leucose aguda e
de manter suas atividades físicas adequadas, dispneia apresentar leucocitose o que ocorre é que se ele
aos pequenos esforços), sangramentos (diminuição estiver em uma leucopenia (mais inicial) e demorar
das plaquetas), infecções (pode ou não ter febre). para ter assistência medica, a doença evolui, e os
Além disso, podemos ter aumento de linfonodos, blastos vão seguir seu curso no sangue periférico e
hepato/esplenomegalia, e um hemograma compatível teremos leucocitose às custas de blastos.
OBS: quanto mais blastos no momento do
diagnóstico = pior o prognostico
Desse modo, quando detectamos citopenias,
devemos investigar a medula óssea (MO), fazendo
uma biópsia de medula (indicado quando tiver
alteração com mais 2 séries: ex: altera neutrófilo e
basófilo,...). Uma medula com leucemia se
apresentara com hipercelularidade (2/3 dos casos)
ou normocelularidade (1/3 dos casos) + blastos CLASSIFICAÇÃO CITOGENÉTICA E MORFOLÓGICA
acima dos 20% = essa hipercelularidade é as custas FAB-LLA: De acordo com essa classificação, as
dos blastos. leucemias linfoides agudas podem ser divididas em 3
classes:
OBS: se tivermos uma situação com pancitopenia +
hipocelularidade = não temos leucemia, = mas sim
situações como mielodisplasia, aplasia de medula, ...
Sendo assim, nessa biópsia de medula, podemos
avaliar o tecido, sendo assim, retiramos um
fragmento ósseo com tutano posso fazer um
aspirado de medula = para analisar a parte citológica
OU posso colocar em lâminas = exame CLASSIFICAÇÃO CITOGENÉTICA E MORFOLÓFOCA
anatomopatológico OU podemos fazer a FAB-LMA: De acordo com essa classificação, as
imunofenofenotipagem (reação entre anticorpos leucemias mieloides agudas podem ser divididas em
monoclonais e antígenos de superfície). 8 classes:
OBS: o que realmente devemos analisar é o tutano
Com essa imunofenotipagem, conseguimos ver quais
antígenos e anticorpos reagem, analisando em qual
ponto da hematopoese a célula parou de se dividir
e se tornou blastica. Sendo assim, conseguimos
definir o tipo de leucemia aguda (linfoide ou
mieloide) e o subtipo. Aproveitando esse exame,
também podemos analisar se o paciente tem
alterações citogenéticas, a fim de descobrir se há
alguma alteração molecular, as quais são divididas de M0+M6+M7 = piores prognósticos (extremos)
acordo com o padrão mais comum em cada tipo
TRATAMENTO: tratamos com quimioterapia (tto
(LMA ou LLA). Ao descobrirmos essas alterações
inicial) e/ou transplante de medula óssea
moleculares, conseguimos definir o prognostico.
---------- LLA = tto dura 2 anos = fases: indução,
Já para LMA = tto dura 6 meses = é mais curto, intensificação, manutenção e remissão = bom
porém mais intenso, com várias internações = fases: prognostico de 1-18 anos = 90% de sobrevida em 5
indução e consolidação fazemos 7 dias de quimio anos (abaixo de 1ano e acima de 18 anos = sobrevida
intensa -> paciente com pancitopenia por 7 dias -> cai para 70%; > 40 anos = cai para 40%). Quando
recupera e volta para + 7 de quimio->... Ao final paciente tem critérios de mal prognostico ou doença
dos 6 meses = paciente tem alta ou vai para TMO refrataria = TMO alogênico.