Templo de Júpiter Capitolino
Templo de Júpiter Ótimo Máximo | |
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Reconstrução do templo | |
O imponente templo de Júpiter dominando a cidade de Roma do alto do Capitólio. Gravura publicada em 1896 por Friedrich Polack (1834-1915). | |
Informações gerais | |
Tipo | Templo romano |
Geografia | |
País | Itália |
Cidade | Roma |
Localização | VIII Região - Fórum Romano |
Coordenadas | 41° 53′ 32″ N, 12° 28′ 54″ L |
Templo de Júpiter |
Templo de Júpiter Ótimo Máximo (em latim: Juppiter Optimus Maximus), conhecido também como Templo de Júpiter Capitolino (em latim: Aedes Iovis Optimi Maximi Capitolini; em italiano: Tempio di Giove Ottimo Massimo), era o mais importante templo da Roma Antiga e ficava no alto do monte Capitolino, rodeado pela chamada Área Capitolina (Area Capitolina), um local onde certas assembleias específicas se reuniam e onde estavam diversos altares, santuários, estátuas e troféus.
História
[editar | editar código-fonte]Primeiro edifício
[editar | editar código-fonte]Muito do que se sabe do primeiro Templo de Júpiter é derivado de tradições romanas posteriores. Lúcio Tarquínio Prisco jurou construí-lo enquanto lutava contra os sabinos e, de acordo com Dionísio de Halicarnasso, começou a terraplenar o local para construir as fundações de seu novo templo.[1] Estudos modernos sobre a região confirmaram o extensivo trabalho realizado para criar uma região plana que permitisse construções no local.[2] Segundo Dionísio e Lívio, as fundações e a maior parte da estrutura do templo foram completadas por Lúcio Tarquínio Soberbo, o último rei de Roma.[3]
Lívio relata também que antes da construção do templo, santuários a outros deuses ocupavam o local. Quando os áugures realizaram os rituais necessários para obterem permissão de removê-los, apenas Terminus e Juventas se recusaram. Seus santuários foram, por isso, incorporados na nova estrutura. Como Terminus era o deus das fronteiras, sua recusa em ser movimentado foi interpretado como um bom presságio para o futuro do estado romano. Um segundo sinal foi a aparição da cabeça de um homem para um dos trabalhadores que cavavam as fundações do templo, o que foi explicado pelos áugures — incluindo alguns trazidos especialmente da Etrúria — como um sinal de que Roma seria a cabeça de um grande império.[4]
Tradicionalmente, acredita-se que o templo tenha sido dedicado em 13 de setembro de 509 a.C., a data de fundação da República Romana.[5] Ele era sagrado para a Tríade Capitolina, Júpiter e suas divindades companheiras, Juno e Minerva.
A pessoa escolhida para realizar a dedicação foi escolhida por sorteio e a honra recaiu sobre Marco Horácio Púlvilo, um dos cônsules daquele ano.[6]
Lívio relata que, em 495 a.C., a Liga Latina, como demonstração de gratidão aos romanos pela libertação de 6 000 prisioneiros latinos, presenteou uma coroa de ouro ao templo.[7]
O templo original media quase 60 x 60 metros e era considerado o mais importante templo religioso em todo o estado romano. Cada divindade da Tríade tinha uma cela separada, com Juno Regina ("rainha") à esquerda, Minerva à direita e Júpiter Ótimo Máximo no meio. O interior estava decorado ainda com muitas esculturas em terracota, a mais famosa delas era "Júpiter conduzindo uma quadriga", que ficava no ponto mais alto do teto como um acrotério. Esta escultura, assim como a estátua de culto de Júpiter na cela principal, eram do artesão etrusco Vulca de Veios.[8] Uma imagem de Sumano, o deus do trovão, estava entre as estátuas do frontão.[9]
A planta e as dimensões exatas do templo tem sido tema de grandes debates.[10] Cinco diferentes plantas já foram publicadas depois de escavações recentes no monte Capitolino que revelaram porções das fundações arcaicas.[11] Segundo Dionísio de Halicarnasso, a mesma planta e fundações foram utilizadas em reconstruções posteriores do templo.[12]
O primeiro templo se incendiou em 83 a.C. durante as guerras civis da ditadura de Sula. Neste incêndio se perderam também os Livros Sibilinos, que, diz-se, teriam sido escritos pelas sibilas clássicas, e eram armazenados no templo para serem guardados e consultados pelo Conselho dos Quinze (quindecimviri) em assuntos de estado, mas somente em casos de emergência.
Segundo edifício
[editar | editar código-fonte]Sula esperava viver para ver o templo reconstruído, mas Quinto Lutácio Cátulo Capitolino teve a honra de dedicar a nova estrutura em 69 a.C..[13] O novo edifício foi construído com a mesma planta e sobre a mesma fundação, mas com materiais mais luxuosos e caros para a estrutura. Fontes literárias indicam que é possível que a obra só tenha terminado completamente no final da década de 60 a.C..[14]
Bruto e outros assassinos se trancaram no Templo de Júpiter depois de assassinarem Júlio César. Na época de Augusto, este novo templo foi renovado e reformado.
Este edifício também se incendiou durante um combate no monte Capitolino em 19 de dezembro de 69 d.C., quando um exército leal a Vespasiano conquistou a cidade no Ano dos quatro imperadores.[15] Neste combate, Domiciano escapou por pouco com vida.
Terceiro edifício
[editar | editar código-fonte]Já como novo imperador, Vespasiano rapidamente reconstruiu o templo sobre as mesmas fundações, desta vez com uma estrutura extravagante. Seu novo Templo de Júpiter foi dedicado em 75 d.C.,[16] mas durou muito pouco, pois queimou no incêndio de Roma em 80 d.C., na época de seu filho, Tito.
Quarto edifício
[editar | editar código-fonte]Domiciano imediatamente começou a reconstruir o templo, novamente sobre a mesma fundação, mas com a estrutura mais luxuosa de todas até então. De acordo com as fontes antigas, Domiciano gastou pelo menos 12 000 talentos de ouro apenas para dourar as telhas de bronze.[17] Elaboradas esculturas decoravam o frontão. Um desenho renascentista de um relevo danificado mostra uma quadriga com uma biga à direita no ponto mais do frontão, as duas servindo como acrotério central, e as estátuas dos deuses Marte e Vênus nos cantos da cornija, também servindo como acrotérios.
No centro do frontão, o deus Júpiter aparece ladeado por Juno e Minerva, todos entronados, a imagem clássica da Tríade Capitolina. Abaixo estava uma águia com as asas abertas. Duas bigas flanqueavam o grupo, uma dirigida pelo deus sol e a outra pela lua.
Declínio e abandono
[editar | editar código-fonte]Acredita-se que o templo de Domiciano tenha se mantido intacto por mais de 300 anos, quando todos os templos pagãos foram fechados pelo imperador Teodósio I em 392. No século V, o edifício foi danificado por Estilicão(que, segundo Zósimo, removeu o ouro das portas) e por Genserico (Procópio afirma que os vândalos saquearam o templo durante o saque de Roma, em 455, removendo as telhas de bronze dourado). Em 571, Narses removeu muitas estátuas e ornamentos. As ruínas ainda estavam bem preservadas em 1447, quando o humanista Poggio Bracciolini visitou Roma. O que restava foi completamente demolido no século XVI, quando Giovanni Pietro Caffarelli construiu o Palazzo Caffarelli no local reutilizando os materiais de construção do templo.
Ruínas hoje
[editar | editar código-fonte]Atualmente, partes das fundações do templo podem ser vistas atrás do Palazzo dei Conservatori, numa área construída especificamente para isto no Jardim Cafarelli, e dentro dos Museus Capitolinos.[18] Uma parte do canto frontal ainda está visível na Via del Tempio di Giove.
O segundo leão Médici foi esculpido no final do século XVI por Flaminio Vacca em um capitel do Templo de Júpiter.[19]
Área Capitolina
[editar | editar código-fonte]A Área Capitolina (em latim: Area Capitolina) era um precinto sagrado na porção sul do Capitólio que rodeava o Templo de Júpiter e cercada por uma parede irregular que seguia os contornos do terreno.[20] O precinto foi ampliado em 388 a.C.[21] e passou a ocupar cerca de 3 000 m2.[22] O Aclive Capitolino terminava na entrada principal da Área, no centro do lado sudeste, e a Porta Pandana parece ter demarcado uma entrada secundária; ambos os portões eram fechados à noite. Os gansos sagrados de Juno, que, segundo a lenda, deram o alarme durante o Cerco gaulês de Roma, ficavam soltos ali,[23] guardados por cães durante o período imperial e cuidados pelo zelador do templo. Domiciano se escondeu na casa deste zelador quando as forças de Vitélio tomaram o Capitólio no Ano dos quatro imperadores.[24]
Câmaras subterrâneas, chamadas de favissas (favissae), guardavam materiais de construção danificados, antigas ofertas votivas e objetos dedicados que não eram mais adequados para exibição. Era religiosamente proibido perturbá-los. A Área contava ainda com diversos santuários, altares, estátuas e troféus.[25] Algumas assembleias plebeias e tribais se encontravam ali.[26] Na Antiguidade Tardia, o local tornou-se um mercado para artigos de luxo e assim permaneceu durante a Idade Média: numa carta de 468, Sidônio descreveu um comerciante negociando o preço de gemas, seda e tecidos finos ali.[27]
Localização
[editar | editar código-fonte]Planimetria do Capitólio antigo |
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Referências
- ↑ Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas 3.69
- ↑ Ammermann 2000, pp. 82–3
- ↑ Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas 4.61; Lívio, História 1.55-56.1
- ↑ Lívio Ab urbe condita 1.55
- ↑ Lívio, Ab urbe condita, 2.8
- ↑ Tácito, citado em Aicher 2004, p. 51
- ↑ Lívio, Ab urbe condita, 2.22
- ↑ Plínio, o Velho, Encyclopedia 35.157
- ↑ Cícero, On Divination 1.16
- ↑ Ridley 2005
- ↑ Mura Sommella 2000, pp. 25 fig. 26;Stamper 2005, pp. 28 fig. 16;Albertoni and Damiani 2008, pp. 11 fig. 2c;Cifani 2008, pp. 104 fig. 85;Mura Sommella 2009, pp. 367–8 figs. 17–19.
- ↑ Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas 4.61.4
- ↑ Plínio, HN 7.138; Tácito, Hist. 3.72.3.
- ↑ Flower 2008, p. 85
- ↑ Tácito, Hist. 3.71-72
- ↑ Darwall-Smith 1996, pp. 41–47
- ↑ Darwall-Smith 1996, pp. 105–110
- ↑ Claridge 1998, pp. 237–238; Albertoni & Damiani 2008
- ↑ Giovanna Giusti Galardi: The Statues of the Loggia Della Signoria in Florence: Masterpieces Restored, Florence 2002. ISBN 8809026209 (em inglês)
- ↑ Lívio 25.3.14; Veleio Patérculo 2.3.2; Aulo Gélio 2.102; Lawrence Richardson, A New Topographical Dictionary of Ancient Rome (Johns Hopkins University Press, 1992), p. 31.(em inglês)
- ↑ Lívio 6.4.12; Richardson, A New Topographical Dictionary, p. 31. (em inglês)
- ↑ Adam Ziolkowski, "Civic Rituals and Political Spaces in Republican and Imperial Rome," in The Cambridge Companion to Ancient Rome (Cambridge University Press, 2013), p. 398. (em inglês)
- ↑ Cícero, Rosc. Am. 56; Gélio 6.1.6; Richardson, A New Topographical Dictionary, p. 31. (em inglês)
- ↑ Tácito, Histórias 3.75; Richardson, A New Topographical Dictionary, p. 31. (em inglês)
- ↑ Richardson, A New Topographical Dictionary, p. 32. (em inglês)
- ↑ Ziolkowski, "Civic Rituals and Political Spaces," p. 398. (em inglês)
- ↑ Sidônio Apolinário, Epistulae 1.7.8; Claire Holleran, Shopping in Ancient Rome: The Retail Trade in the Late Republic and the Principate (Oxford University Press, 2012), 251. (em inglês)
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Aicher, Peter J. (2004), Rome Alive: A Source Guide to the Ancient City, ISBN 0865164738 (em inglês), Wauconda, IL: Bolchazy-Carducci.
- Albertoni, M.; Damiani, I. (2008), Il tempio di Giove e le origini del colle Capitolino (em italiano), Milão: Electa.
- Ammerman, Albert (2000), «Coring Ancient Rome», Archaeology (em inglês): 78–83.
- Cifani, Gabriele (2008), Architettura romana arcaica: Edilizia e società tra Monarchia e Repubblica (em italiano), Rome: "L'Erma" di Bretschneider.
- Darwall-Smith, R. H. (1996), Emperors and Architecture: A Study of Flavian Rome (em inglês), Brussels: Latomus.
- Claridge, Amanda (1998), Rome, ISBN 0-19-288003-9, Oxford Archaeological Guides (em inglês), Oxford Oxfordshire: Oxford University Press.
- Flower, Harriet I. (2008), «Remembering and Forgetting Temple Destruction: The Destruction of the Temple of Jupiter Optimus Maximus in 83 BC», in: G. Gardner and K. L. Osterloh, Antiquity in Antiquity, ISBN 978-3-16-149411-6 (em inglês), Tubingen: Mohr Siebeck, pp. 74–92.
- Mura Sommella, A. (2000), «"La grande Roma dei tarquini": Alterne vicende di una felice intuizione», Bullettino della Commissione Archeologica Comunale di Roma (em italiano), 101: 7–26.
- Mura Sommella, A. (2009), «Il tempio di Giove Capitolino. Una nuova proposta di lettura», Annali della Fondazione per il Museo Claudio Faina (em italiano), 16: 333–372.
- Ridley, R.T. (2005), «Unbridgeable Gaps: the Capitoline temple at Rome», Bullettino della Commissione Archeologica Comunale di Roma (em inglês), 106: 83–104.
- Stamper, John (2005), The architecture of Roman temples: the republic to the middle empire (em inglês), New York: Cambridge University Press.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Temple of Jupiter» (em inglês)
- «Temple of Jupiter» (em inglês). Ancientworlds.net. Consultado em 8 de fevereiro de 2006. Arquivado do original em 22 de maio de 2005.