Mostrar código-fonte de Tratado de Paris (1763)

{{Info/Documento
| nome                = Tratado de Paris
| nome_completo       = ''Tratado de paz entre o Rei de França, o Rei de Espanha e o Rei da Grã-Bretanha''
| imagem              = TRAITÉ DE PARIS 10 FÉVRIER 1763 (France+GB+Espagne).jpg
| imagem_compr        = 200px
| legenda             = [[Impressão]] original do Tratado de 1763.<br />{{Pequeno|([[Governo do Quebec|Divisão do Patrimônio Cultural do Quebec]], [[1763]].)}}
| tipo                = [[Tratado de paz]]
| objetivo            = 
* Encerrar hostilidades da [[Guerra dos Sete Anos]];
* Resolver disputas territoriais na [[América do Norte]];
* Firmar acordos de comércio e navegação no [[Oceano Atlântico|Atlântico]].
| data_esboço         = 
| data_assinatura     = {{dtlink|10|2|1763|idade}}
| local_assinatura    = [[Paris]], [[Ficheiro:Royal Standard of the King of France.svg|22px|border|link=Reino da França]] [[Reino da França|França]]
| signatários         = [[Ficheiro:Royal Standard of the King of France.svg|22px|border|link=Reino da França]] [[César Gabriel de Choiseul-Praslin|Choiseul-Praslin]]<br />[[Ficheiro:Flag of Spain (1701–1760).svg|22px|border|link=História da Espanha (1700–1808)]] [[Jerónimo Grimaldi]]<hr>[[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px|border|link=Reino da Grã-Bretanha]] [[John Russell, 4.º Duque de Bedford|Duque de Bedford]]<br />[[Ficheiro:Flag of Portugal (1750).svg|22px|border|link=Reino de Portugal]] [[Martinho de Melo e Castro|Melo e Castro]]
| partes              = [[Ficheiro:Royal Standard of the King of France.svg|22px|border|link=Reino da França]] [[Reino da França|França]]<br />[[Ficheiro:Flag of Spain (1701–1760).svg|22px|border|link=História da Espanha (1700–1808)]] [[História da Espanha (1700–1808)|Espanha]]<hr>[[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px|border|link=Reino da Grã-Bretanha]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]<br />[[Ficheiro:Flag of Portugal (1750).svg|22px|border|link=Reino de Portugal]] [[Reino de Portugal|Portugal]]
| depositário         = [[Ficheiro:Royal Standard of the King of France.svg|22px|border|link=Reino da França]] [[Reino da França|França]]
| depósito            = [[Arquivos Nacionais (França)|Arquivos Nacionais]]
| língua              = [[Língua francesa|francês]]
}}
O '''Tratado de Paris''' (em [[Língua francesa|francês]]: ''Traité de paix entre le Roi, le roi d'Espagne et le roi de la Grande-Bretagne, 1763'') é um [[tratado de paz]] assinado em [[10 de fevereiro]] de [[1763]] entre [[Reino da França|França]] e [[História da Espanha (1700–1808)|Espanha]] e [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]] e [[Reino de Portugal|Portugal]], com a finalidade principal de encerrar as hostilidades da [[Guerra dos Sete Anos]] (1756–1763) e reorganizar os territórios coloniais de cada nação na [[Ásia]] e na [[América do Norte]]. 

Apesar de ter sido negociado gradativamente em [[Fontainebleau]] nos dois anos finais do conflito e assinado em [[Paris]], capital francesa, o tratado inversamente representou uma derrota definitiva dos interesses [[franceses]] na América do Norte e a soberania das reivindicações territoriais dos [[britânicos]].{{sfn|Marston|2002|p=91}} O tratado é um documento complexo e intricado de termos e disposições, o que reflete a profundidade do conflito e o presumido impacto dos termos negociados sobre as nações envolvidas.{{sfn|Marston|2002|p=91}} Este documento precedeu em apenas cinco dias o também singular [[Tratado de Hubertsburg]] – firmado entre [[Reino da Prússia|Prússia]], [[Monarquia de Habsburgo|Áustria]] e [[Eleitorado da Saxônia|Saxônia]] – que encerrou o teatro de operações da guerra no [[Europeu|continente europeu]]. Combinados, ambos os tratados cimentaram a prevalência do [[Império Britânico]] em suas colônias mundiais e a supremacia da Prússia como potência expansionista no continente.{{sfn|Marston|2002|p=93}}<ref>{{Citar web|url=https://www.u-s-history.com/pages/h754.html|título=Treaty of Paris (1763)|publicado=US History|acessodata=15 de dezembro de 2024}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.bbc.co.uk/history/british/empire_seapower/trade_empire_01.shtml|título=Symbiosis: Trade and the British Empire|publicado=''[[BBC|BBC History]]''|data=17 de fevereiro de 2011|ultimo=Morgan|primeiro=Kenneth|acessodata=15 de dezembro de 2024}}</ref><ref name="UNLAlthouseMar2021">{{Citar web|url=https://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1318&context=honorstheses|título=A Historical Analysis of the Causes of the French and Indian War|publicado=[[Universidade de Nebraska-Lincoln]]|data=12 de março de 2021|ultimo=Althouse|primeiro=Jake|acessodata=15 de dezembro de 2024|pagina=15–18}}</ref>  

Pelos termos detalhados do tratado, a Coroa britânica ampliou sua posição dominante na América do Norte com a anexação de territórios significantes da [[Nova França]] (como [[Montreal]] e [[História do Quebec|Quebec]]), enquanto a [[Luisiana (Nova Espanha)|Transferência da Louisiana]] para a Espanha foi o evento culminante do fim da presença francesa no continente após mais de dois séculos de investimento colonial.{{sfn|Escott|1908|p=181}}{{sfn|Conrad|2012|p=79}} 

== Contexto ==
Ao longo dos [[Século XVI|séculos XVI]], [[Século XVII|XVII]] e [[Século XVIII|XVIII]], [[Espanha]], [[Reino de Portugal|Portugal]], [[Reino da França|França]] e [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] despontaram como as principais [[potência regional|potências regionais]], projetando seu poderio econômico e militar através do investimento contínuo em rotas de comércio com o [[Oriente]] e no desenvolvimento de uma rede colonial extensa no chamado [[Novo Mundo]]. Nas primeiras décadas do século XVI, franceses e ingleses investiram fortemente na exploração geográfica da [[América do Norte]] movidos pelo interesse em expandir sua rede comercial e estabelecer rotas marítimas alternativas até a [[Ásia]], onde também mantinham atividades comerciais e coloniais.{{sfn|Conrad|2012|p=45}} A partir do [[século XVII]], as [[República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos|Províncias Unidas dos Países Baixos]] (conhecidas coletivamente como "[[Holanda]]") desvencilhou-se por completo do controle espanhol e ascendeu como uma relevante potência comercial, eventualmente se beneficiando dos interesses globais das demais potências. Na [[década de 1700]], com o [[Tratado de União]], o monarca inglês passa reinar também sobre [[Reino da Escócia|Escócia]] e [[Senhorio da Irlanda|Irlanda]], formando o [[Reino da Grã-Bretanha]] e angariando uma posição de ainda maior relevância e poder militar e econômico dentre as potências europeias. 

Neste período, a Europa tornou-se palco de numerosos conflitos entre estas potências, motivadas principalmente por disputas dinásticas e territoriais, como a [[Guerra dos Nove Anos]] (1688–1697) e a [[Guerra da Sucessão Espanhola]] (1700–1714).{{sfn|Conrad|2012|p=50}} Os conflitos neste período eram resolvidos através de tratados e alianças diplomáticas complexas, algumas das quais frágeis demais diante das ambições expansionistas das nações. As disputas e rivalidades históricas foram invariavelmente transportadas para as colónias dos países envolvidos, abrindo caminho às numerosas guerras inter-coloniais.{{sfn|Conrad|2012|p=61}} A [[Guerra dos Sete Anos]], o maior destes conflitos de proporção global, é um caso singular por ter se iniciado nas colônias antes de envolver diretamente as metrópoles.{{sfn|Conrad|2012|p=62}}  

No desenrolar do conflito, a França aliou-se à Espanha e ambos concentraram seus esforços principalmente no continente europeu. A Grã-Bretanha buscou apoiar indiretamente a [[Reino da Prússia|Prússia]] no continente enquanto investia pesadamente na vitória sobre os franceses na América do Norte. No contexto do continente americano, o conflito (estudado separadamente como [[Guerra Franco-Indígena]]) envolveu nações indígenas locais em alianças estratégicas com franceses e britânicos em meio à disputa por territórios no [[Rio Ohio|Vale do Rio Ohio]], [[Acádia (América)|Acádia]] e [[Nova França|Canadá]].{{sfn|Marston|2002|p=10}} Na [[Ásia]], o conflito ocorreu principalmente no [[subcontinente indiano]] e no [[Mar do Sul da China]], onde franceses e ingleses competiram pela prevalência das atividades comerciais da [[Companhia Francesa das Índias Orientais]] e da [[Companhia Britânica das Índias Orientais]], respectivamente. Espanhóis e holandeses também estenderam suas disputas para a região, buscando consolidar sua presença no lucrativo comércio oriental. 

== Negociações ==
[[Ficheiro:3rd Earl of Bute by Sir Joshua Reynolds.jpg|thumb|right|250px|O [[Primeiro-ministro do Reino Unido|Primeiro-ministro britânico]] [[John Stuart, 3.º Conde de Bute|Lorde Bute]], que governou nos dois anos finais da guerra, foi um dos articuladores das trocas territoriais com a [[Reino da França|França]] previstas no tratado. Bute desejava manter a estabilidade financeira do [[Império Britânico]] e conter possíveis tentativas de contra-ataque francês na [[América]].]]
Durante a guerra, a Grã-Bretanha conquistou as colônias francesas do [[Canadá]], [[Guadalupe (ilha)|Guadalupe]], [[Santa Lúcia]], [[Martinica]], [[Dominica]], [[Granada (país)|Granada]], [[Ilha de São Vicente (São Vicente e Granadinas)|São Vicente]], [[Granadinas]] e [[Tobago]] (na [[América]]). Os principais vencedores do conflito, os britânicos também tomaram os postos comerciais franceses na [[Índia]], [[Goreia]] e [[rio Senegal|Senegal]] e as colônias espanholas de [[Manila]] e [[Havana]].<ref>{{Citar web|url=http://www.wdl.org/en/item/4397/|título=The Present State of the West-Indies: Containing an Accurate Description of What Parts Are Possessed by the Several Powers in Europe|ultimo=Kitchin|primeiro=Thomas|data=1778|publicado=''[[World Digital Library]]''|acessodata=15 de dezembro de 2024}}</ref><ref name="DeLeonMar1883">{{Citar web|url=https://www.jstor.org/stable/2139304|título=The Conference at Berlin on the West-African Question|ultimo=De Leon|primeiro=Daniel|publicado=''Political Science Quarterly''|volume=1|pagina=103-139|data=1886|acessodata=15 de dezembro de 2024|jstor=2139304}}</ref> A França, por sua vez, havia conseguido a célebre captura de [[Minorca]] e de diversos postos comerciais britânicos em [[Sumatra]].<ref name="DeLeonMar1883"/> A [[Espanha]], beligerante indireto no conflito, também projetou suas ambições colonialistas e conquistou a vila de [[Almeida (município)|Almeida]] e a [[Colônia do Sacramento]] de [[Reino de Portugal|Portugal]].<ref name="DeLeonMar1883"/>  

=== Questão da Luisiana ===
A [[Luisiana (Nova França)|Luisiana]] compreendia uma ampla extensão de territórios desde o [[Golfo de São Lourenço]], passando pelos [[Grandes Lagos da América do Norte|Grandes Lagos]] e as [[Montanhas Rochosas]] até o [[Golfo do México]]. Em [[1682]], o explorador francês [[René Robert Cavelier de La Salle]] empreendeu uma expedição até a atual [[Nova Orleães]] e reivindicou o território explorado em nome de [[Luís XIV de França|Luís XIV]]. Desde então, a região foi colonizada por franceses, sendo vital para o prestígio dos franceses em todo o escopo do colonialismo, bem como um fator decisivo de sua presença dominante no continente.<ref name="UNLAlthouseMar2021"/> 

Em [[1762]], os britânicos impuseram uma vitória esmagadora aos franceses na [[Batalha de Signal Hill]].{{sfn|Marston|2002|p=90}} A França, ao mensurar o provável avanço das tropas britânicas para o sul do território, propôs uma negociação direta com a Espanha sobre o destino da Luisiana no limiar do conflito.{{sfn|Marston|2002|p=91}} Em novembro daquele mesmo ano, França e Espanha firmaram o [[Tratado de Fontainebleau (1762)|Tratado de Fontainebleau]], garantindo a transferência de porções da Luisiana aos espanhóis independentemente dos termos que seriam acordados posteriormente com os britânicos.<ref name="UNLAlthouseMar2021"/>  

Posteriormente, o Tratado de Paris complementou estas negociações anteriores e estabeleceu a cessão da Luisiana para os britânicos como parte das negociações de paz, culminando no desmantelamento de uma imensa região que vinha sendo de controle dos franceses há séculos. Como parte das manobras negociadas, os britânicos assumiram o controle do território a leste do [[rio Mississippi]], formando sua colônia da [[Flórida Ocidental]] enquanto os franceses mantiveram o controle sobre a cidade de [[Nova Orleães]]. A Espanha assumiu as terras a oeste do Mississippi, formando a muito maior colônia de [[Luisiana (Nova Espanha)|Luisiana Espanhola]]. Esta disposições do tratado foram mantidas até o [[Compra da Luisiana|Tratado Franco-Americano de 1803]], em que a Luisiana foi adquirida pelos [[Estados Unidos]], e o [[Tratado de Adams-Onís]] (1819), pelo qual a [[Flórida]] foi cedida pela Espanha e tornou-se uma região estadunidense.  

=== Questão do Canadá ===
[[Ficheiro:Montreal 1760 Amherst.jpg|thumb|left|250px|{{Pequeno|[[Francis Hayman|Hayman]], ''Rendição de Montreal ao General Amherst'', [[óleo sobre tela]], c. [[1760]].}}<hr>Em [[8 de setembro]] de [[1760]], as forças britânicas consumaram a tomada de [[Montreal]], até então o principal assentamento colonial da [[Nova França]]. Com os avanços britânicos a partir desta data, os franceses perceberiam um desfecho trágico cada vez mais provável.<ref>{{Citar livro|url=https://www.erudit.org/en/journals/mens/2011-v12-n1-mens0146/1010567ar.pdf|título=The Surrender of Montreal to General Amherst de Francis Hayman et l’identité impériale britannique|publicado=''[[Mens (revista)|Revue d'histoire intellectuelle et culturelle]]''|local=[[Quebec (cidade)|Québec]]|ultimo=Turcot|primeiro=Laurent|data=2011|volume=12|pagina=9–12|isbn=1927-9299|acessodata=15 de dezembro de 2024}}</ref>]]
Na [[década de 1760]], [[Canadá]] compreendia menos da metade do território do país atual (o atualmente chamado [[Leste do Canadá]]), correspondendo basicamente a região das [[Montanhas Rochosas]] (a sudoeste de [[Montreal]]) até a a costa de [[Terra Nova]] no [[Mar do Labrador]]. Ainda assim, a região era de importância vital para os franceses, que ali se estabeleceram desde a expedição de [[Jacques Cartier]] em [[1535]]. Nas décadas seguintes à chegada de Cartier, a França manteve um controle rígido sobre a região, investindo na colônia através da edificação de fortificações e cidades no litoral [[Oceano Atlântico|atlântico]] e favorecendo a comercialização com as nações indígenas nativas. Os franceses também consideravam a região ao norte da Terra Nova como uma ampla possibilidade de navegar uma rota alternativa até a [[Dinastia Qing|China]].{{sfn|Conrad|2012|p=59}} 

A [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]], por sua vez, mantinha suas possessões coloniais ao sul entre a Nova França e o Oceano Atlântico, conhecidas coletivamente como [[Treze Colônias]], das quais a [[Província da Baía de Massachusetts]] possuía fronteira diretamente com o Canadá francês.{{sfn|Marston|2002|p=30}} Desde [[1700]], as duas forças coloniais empreendiam disputas severas por território e expansão que resultaram em profundos conflitos, como a [[Guerra da Rainha Ana]] (1702–1713) e a [[Guerra do Rei Jorge]] (1744–1748).{{sfn|Marston|2002|p=11}} Em ambos os conflitos, os britânicos haviam tomado diversas regiões do controle francês e os tratados de paz posteriores provaram-se insuficientes para concluir as tensões resultantes.{{sfn|Marston|2002|p=12}}{{sfn|Conrad|2012|p=67}}  

A Guerra dos Sete Anos, como conflito que herdou todas essas disputas não solucionadas anteriormente, era crucial ao interesse britânico em expandir e consolidar suas conquistas na Nova França.{{sfn|Conrad|2012|p=68}} Eventualmente, os britânicos ampliaram fortemente sua presença na região através das sucessivas vitórias no conflito.{{sfn|Conrad|2012|p=75}} Na negociação do Tratado de Paris, a Grã-Bretanha optou por devolver a ilha de [[Guadalupe]], uma lucrativa colônia açucareira no [[Caribe]], e manter suas possessões conquistas na América do Norte.{{sfn|Marston|2002|p=94}} Sob a liderança do [[Étienne François Choiseul|Duque de Choiseul]], a França – que enfrentava um cenário de devastação financeira e esgotamento social severos – relutantemente aceitou os termos e cedeu grande parte do [[Canadá]]. Os britânicos renomearam a região como [[Québec|Província do Québec]] e posicionaram [[James Murray]], um herói da guerra, como [[governador-geral]] da região. Maiores negociações entre as duas partes permitiram que súditos franceses emigrassem para regiões sob controle da França e também asseguraram a [[tolerância religiosa]] dos britânicos para os [[Catolicismo|católicos]] que se mantiveram na região. 

=== Questão de Dunquerque ===
[[Ficheiro:Ludolf Backhuysen I (1630-1708) - View of Dunkirk in the Seventeenth Century - BHC3818 - Royal Museums Greenwich.jpg|thumb|right|250px|{{Pequeno|[[Ludolf Backhuysen|Backhuysen]], ''Vista de Dunquerque no século XVII'', [[óleo sobre tela]], c. [[1700]], [[Museu Marítimo Nacional (Reino Unido)|Museu Marítimo Nacional]].}}<hr>Pelos termos do tratado, os britânicos conseguiram impor aos franceses a demolição de fortificações em [[Dunquerque]], um ponto de tensão entre as duas potências desde o fim da [[Guerra dos Nove Anos]] em [[1697]].]]
A cidade portuária de [[Dunquerque]], banhada pelo [[Canal da Mancha]] e localizada no [[Estreito de Dover]], foi um dos pontos mais controversos do tratado. Desde o fim da [[Guerra da Sucessão Austríaca]], a França mantinha sua posse sobre a cidade com a condição de remover todas as suas fortificações. Os britânicos temiam que a cidade servisse de ponto de partida de uma eventual tentativa de invasão pelos franceses, o que de fato foi planejado em [[1759]], durante a Guerra dos Sete Anos, mas abortado em função dos gastos excessivos que a França já enfrentava no decorrer do conflito.

O [[Tratado de Utreque]], firmado em [[1714]], havia permitido a construção de fortificações francesas na cidade com algumas poucas ressalvas. Esse acordo momentâneo acabou eclipsado pela retomada de rivalidades entre os dois países, especialmente porque a Grã-Bretanha entendia a fortificação de cidades costeiras francesas como uma ameaça direta a sua hegemonia sobre o [[Mar do Norte]]. Entretanto, pelos termos do Tratado de 1763, a França teve de se submeter às condições impostas anteriormente pelo [[Tratado de Aquisgrão (1748)|Tratado de Aquisgrão]] e destruir as fortificações militares na região. Esta questão continuou a ser uma fonte de ressentimento político para os franceses e foi novamente debatida e encerrada no [[Tratado de Paris (1783)|Tratado de Paris]], exatamente vinte anos depois, que reconheceu uma série de provisões favoráveis à França no contexto da [[Guerra Revolucionária Americana]].

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{|class="wikitable" style="text-align:center; width: 50%; font-size: 85%;"
|-
! colspan="4" | Trocas territoriais previstas pelo Tratado de Paris (1763)
|- 
! rowspan="2" | Território
! colspan="2" | Soberania
! rowspan="2" | [[Lista de Estados soberanos|Estado atual]]
|-
! ← Pré-tratado
! Pós-tratado →
|-
| [[Acádia (América)|Acádia]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| {{CAN}}
|-
| [[Ilha do Cabo Bretão|Cabo Bretão]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| {{CAN}}
|-
| [[Canadá]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| {{CAN}}
|-
| [[Capitania-Geral de Cuba|Cuba]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| [[Ficheiro:Flag of Spain (1760–1785).svg|22px]] [[História da Espanha (1700–1808)|Espanha]]
| {{CUB}}
|-
| [[Flórida espanhola|Flórida]]
| [[Ficheiro:Flag of Spain (1760–1785).svg|22px]] [[História da Espanha (1700–1808)|Espanha]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| {{EUA}}
|-
| [[Guadalupe]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| {{FRA}}
|-
| rowspan="2" | [[Luisiana (Nova França)|Luisiana]]
| rowspan="2" | [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| rowspan="2" | {{EUA}}
|-
| [[Ficheiro:Flag of Spain (1760–1785).svg|22px]] [[História da Espanha (1700–1808)|Espanha]]
|-
| [[Martinica]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| {{FRA}}
|-
| [[Minorca]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| {{ESP}}
|-
| [[Nova Escócia]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| {{CAN}}
|-
| [[Pondicheri]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| {{IND}}
|-
| [[Rio Grande (Rio Grande do Sul)|Rio Grande]]
| [[Ficheiro:Flag of Spain (1760–1785).svg|22px]] [[História da Espanha (1700–1808)|Espanha]]
| [[Ficheiro:Flag of Portugal (1750).svg|22px|border]] [[Reino de Portugal|Portugal]]
| {{BRA}}
|-
| [[Colônia do Sacramento|Sacramento]]
| [[Ficheiro:Flag of Portugal (1750).svg|22px|border]] [[Reino de Portugal|Portugal]]
| [[Ficheiro:Flag of Spain (1760–1785).svg|22px]] [[História da Espanha (1700–1808)|Espanha]]
| {{URU}}
|-
| [[São Luís (Senegal)|Saint-Louis]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| {{SEN}}
|-
| [[Santa Lúcia]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| {{LCA}}
|-
| [[São Pedro e Miquelão]]
| [[Ficheiro:Flag of Great Britain (1707–1800).svg|22px]] [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]]
| [[Ficheiro:Royal flag of France.svg|22px]] [[Reino da França|França]]
| {{FRA}}
|-
! colspan="4" | {{Pequeno|Diversos destes territórios eram administrados separadamente como [[Vila|vilas]], [[porto|portos]], [[Fortaleza|fortificações]] ou partes integrantes de possessões coloniais. A nomenclatura desta lista é de acordo com os termos especificados no texto integral do Tratado de Paris de 1763.}}
|}
</center>

== Termos ==
=== Artigos 1–3: restabelecimento da paz ===
[[Ficheiro:New Map of North America (1763).JPG|thumb|left|250px|''Um novo mapa da América do Norte segundo as provisões do Tratado de 1763'', de autoria de [[Robert Sayer]] e [[Jean-Baptiste Bourguignon d'Anville|d'Anville]], parte do acervo da [[Biblioteca Pública de Nova Iorque]]. O mapa detalha todas as transferências territoriais previstas pelo Tratado de Paris entre [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]] e [[Reino da França|França]].]]
Os artigos I ao III do Tratado de 1763 abordam especificamente o restabelecimento da paz entre as partes beligerantes com recomendações expressas de que autoridades coloniais fomentem e cumpram diversas medidas de [[evacuação]] de tropas estrangeiras dos territórios cedidos. O Artigo I estabelece a paz definitiva entre as nações envolvidas e seus respectivos [[Soberano|soberanos]] e [[Súdito|súditos]], orientando para que seja restabelecido o comércio e atividades econômicas, bem como cooperação política e cultural entre as nações envolvidas anteriormente no conflito.<ref name="MJPTratadoParis2009">{{Citar web|url=https://mjp.univ-perp.fr/traites/1763paris.htm|título=Traité de paix définitif et alliance entre la Grande-Bretagne, la France et l'Espagne, conclus à Paris, avec les articles séparés y afférant|publicado=''Digithèque MJP''|acessodata=15 de dezembro de 2024|data=2009}}</ref> O destaque para a orientação de que os povos até então beligerantes busquem uma relação pacífica e de tolerância a partir da data de assinatura do tratado demonstra a intensidade das hostilidades durante o conflito e a maneira como as rivalidades que anteriormente se restringia às negociações entre as potências foi herdada pelas populações coloniais. Além disso, o conflito em geral deixou um profundo impacto sobre a cultura, a sociedade e os povos envolvidos tanto no continente europeu quanto nas colônias. Os países beligerantes, em especial a [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]], que venceu o conflito e assumiu o controle de extensas quantidades de terras outrora sob domínio de franceses e espanhóis, procurou maneiras de manter a estabilidade dentro dos territórios adquiridos e evitar prováveis revoltas e insubordinações de colonos.{{sfn|Marston|2002|p=92}}

O Artigo II reafirma e estabelece novamente os termos acordados por [[Tratado comercial|tratados comerciais]] e [[Tratado de paz|de paz]] entre ingleses, franceses e espanhóis desde o [[Paz de Vestfália|Tratado de Vestfália de 1648]] até o [[Tratado de Utreque]], firmado em [[1713]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/> O primeiro encerrou as hostilidades da [[Guerra dos Trinta Anos]] lançando as bases da [[diplomacia]] [[Idade moderna|moderna]], como o reconhecimento da [[Soberania|soberania dos Estados]] e o [[Não-Intervencionismo|não-intervencionismo]]. O segundo pôs fim à também custosa [[Guerra da Sucessão Espanhola]] e sacramentou diversas trocas territoriais entre as monarquias europeias ao reconhece a [[Casa de Bourbon]] no [[Monarquia Espanhola|trono espanhol]]. Com esta disposição declarada no segundo artigo do Tratado de 1763, Grã-Bretanha, França e Espanha restabelecem a vigência destes tratados anteriores e a legitimidade de suas possessões ultramarinas. No artigo segundo, o texto do tratado reconhece estes tratados anteriores como "base fundamental da paz" entre as nações.<ref name="MJPTratadoParis2009"/>

Em seu terceiro artigo, o Tratado de 1763 estipula a devolução de embarcações militares e comerciais bem como de [[Prisioneiro de guerra|prisioneiros de guerra]], [[refém|reféns]] e [[Refugiados|refugiados]] mantidos em [[Crime de guerra|cativeiro]] durante o conflito.<ref name="MJPTratadoParis2009"/> O artigo estabelece que todas as possessões tomadas temporariamente por outras nações no contexto do conflito deveriam ser repatriadas e reembolsadas ao seu soberano de direito "em bom estado".<ref name="MJPTratadoParis2009"/> Isto reflete a intenção em restabelecer e fomentar as relações comerciais e diplomáticas entre as nações europeias tal qual eram anteriormente ao conflito, o que só seria viável com uma reparação equilibrada das perdas materiais e humanas de todas as partes envolvidas.{{sfn|Escott|1908|p=215}} 

=== Artigos 4–9: cessões de territórios na [[América]] ===
[[Ficheiro:Courtyard (35073889104).jpg|thumb|right|250px|Pátio central do [[Forte Louisbourg]], em [[Ilha do Cabo Bretão|Cabo Bretão]], construída pelos franceses em [[1713]] e cedida para os britânicos pelo Tratado de 1763. No seu auge, a região era um dos portos pesqueiros mais movimentados das [[Américas]].{{sfn|Conrad|2012|p=76}}]]
Os artigos 4 ao 9 do Tratado de 1763 abordam as cessões de territórios e trocas de territórios entre as potências envolvidas no conflito, notadamente Grã-Bretanha e França. Os termos acordados nestes artigos são essencialmente o reconhecimento da vitória britânica sobre as pretensões francesas e o início do declínio do poder colonial francês no continente americano. A América, como um dos principais teatros de operações do conflito, foi um fator amplamente debatido e cuidadosamente negociado entre franceses e britânicos. Além disto, a maior parte das colônias de ambas as nações estavam situadas na [[América do Norte]] e no [[Caribe]], regiões nas quais as disputas comerciais e políticas entre os dois países perduravam desde, pelo menos, a [[Guerra da Sucessão Espanhola]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/>{{sfn|Marston|2002|p=95}}

No quarto artigo do tratado, a França formalmente abre mão de sua soberania na [[Acádia (América)|Acádia]], [[Nova Escócia]] e [[História do Canadá|Canadá]], incluindo a [[Ilha do Cabo Bretão]] (anteriormente ocupada pelos britânicos em [[1758]] e uma das principais reivindicações francesas no prelúdio do conflito) e todos as demais "ilhas, costas e terras" anteriormente detidas pela Coroa francesa.<ref name="MJPTratadoParis2009"/> O artigo também estabelece que a Grã-Bretanha passa a controlar formalmente toda a [[Rio São Lourenço (América do Norte)|Bacia do São Lourenço]], incluindo os [[Canal|canais]], ilhas e [[Forte|fortificações]] construídos pelos franceses até aquela data.<ref name="MJPTratadoParis2009"/> Dentro dos termos assinados neste artigo, a Coroa britânica se comprometeu a [[Tolerância religiosa|tolerar]] a [[Catolicismo|confissão católica]] dos habitantes destes territórios.{{sfn|Conrad|2012|p=78}} Além disto, a Coroa britânica reconheceu a possibilidade de resistência de colonos franceses em ser governados por autoridades estrangeiras e abriu o precedente para que aqueles insatisfeitos com a transferência de soberania do território fossem pacificamente realocados para regiões sob domínio francês.{{sfn|Conrad|2012|p=77}}<ref name="MJPTratadoParis2009"/>
[[Ficheiro:Saint-Pierre and Miquelon EEZ map-fr.svg|thumb|right|250px|O Tratado de Paris estabeleceu que a [[Reino da França|França]] cederia [[Ilha do Cabo Bretão|Cabo Bretão]] e receberia em troca [[São Pedro e Miquelão]], que ainda nos dias atuais é a única [[Coletividade de ultramar|coletividade ultramarina francesa]] na [[América do Norte]].]] 
No quinto artigo do tratado, a Coroa britânica permite parcialmente a [[Pesca|atividade pesqueira]] dos colonos franceses na costa da [[Terra Nova]], mas restringe atividades comerciais de franceses na Ilha do Cabo Bretão e na Bacia do São Lourenço, conforme já havia sido estipulado pelo [[Tratado de Utreque]] décadas antes.<ref name="MJPTratadoParis2009"/>{{sfn|Conrad|2012|p=52}} Cabo Bretão era um importante [[Entreposto|entreposto comercial]] e porto pesqueiro construído pelos franceses na [[década de 1710]], sendo considerada um dos termos mais valiosos tanto do conflito quanto do tratado que o solucionou.{{sfn|Conrad|2012|p=53}} A restrição da atividade comercial francesa na localidade após a transferência de domínio aos britânicos representou uma estratégia crucial que visava impedir a continuidade da competição comercial entre franceses e britânicos após o tratado. Como forma de compensar os danos comerciais causados pela perda de Cabo Bretão, a Grã-Bretanha em contrapartida cede aos franceses as ilhas de [[Ilha de São Pedro (São Pedro e Miquelão)|São Pedro]] e [[Miquelão]], no [[golfo de São Lourenço]]. O tratado reconhece ainda que o território é propício para o estabelecimento de um porto pesqueiro francês sem, no entanto, permitir a construção de fortificações pelos franceses na região.

Nos três artigos seguintes, o Tratado de 1763 formaliza as trocas territoriais abaixo do Canadá e dos [[Grandes Lagos da América do Norte|Grandes Lagos]], especialmente nos territórios banhados pelo [[Golfo do México]]. Desta forma, os franceses cedem aos britânicos a cidade [[Mobile (Alabama)|Mobile]], no atual [[Estados dos Estados Unidos|estado estadunidense]] do [[Alabama]], e os territórios a leste do [[rio Mississipi]], com exceção da cidade de [[Nova Orleães]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/> Com relação às colônias caribenhas, os britânicos devolvem aos franceses as ilhas de [[Guadalupe]], [[Marie-Galante]], [[La Désirade]] e [[Martinica]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/> Em contrapartida, os franceses cedem aos britânicos as possessões de [[Geografia de Granada|Granada]], [[Granadinas]], [[Ilha de São Vicente (São Vicente e Granadinas)|São Vicente]], [[Dominica]], [[Tobago]] e recebem de volta [[Santa Lúcia#Geografia|Santa Lúcia]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/> 

=== Artigos 10–11: cessões de territórios na [[África]] e [[Ásia]] ===
[[Ficheiro:Saint-LouisMer.jpg|thumb|250px|left|Ilustração de [[René-Claude Geoffroy de Villeneuve|Geoffroy de Villeneuve]] que retrata a [[São Luís (Senegal)|Ilha de Saint-Louis]] por volta de [[1790]]. O Tratado de 1763 abordou também a partilha de territórios anteriormente sob domínio exclusivo francês na região do [[rio Senegal]], abalando definitivamente as bases do [[Império colonial francês]] na [[África]].]]
Nos artigos 10 ao 14, Grã-Bretanha e França estabelecem diversos acordos sobre a devolução de territórios em outros teatros operacionais do conflito. Apesar de a América, em especial a [[América do Norte]], ter sido o cerne e palco principal da guerra, os confrontos estenderam-se para as colônias de todos os países envolvidos na [[África Ocidental|África atlântica]] e no [[Sudoeste asiático]]. Sendo assim, o Tratado de 1763 estabelece nestes artigos que os britânicos deveriam devolver a [[Goreia|Ilha de Goreia]] ao franceses e receber em troca as fortificações francesas ao longo do [[rio Senegal]], como [[São Luís (Senegal)|Saint-Louis]], [[Gajaaga|Galam]] e [[Podor]] aos franceses.<ref name="MJPTratadoParis2009"/> Estas regiões que compõem atualmente o [[Senegal]] era cruciais para o monopólio da extração e comercialização de [[ouro]] pretendidos pelos britânicos. O Senegal voltaria a ser colonizado pelos franceses em outros momentos de sua história e através de novos tratados e convenções diplomáticas entre as duas nações ao longo do [[século XIX]], deixando um vasto legado de colonização francesa na região até os dias atuais. 

No contexto das colônias asiáticas, a situação relativamente mais complexo e delicada, envolvia o reconhecimento e recompensas aos clãs locais que haviam se envolvido nas disputas entre as nações europeias com a finalidade de conquistar seus benefícios próprios. O décimo-primeiro artigo do tratado estabelece que tanto Grã-Bretanha quanto França reconheceriam a soberania de [[Maomé Ali Khan Wallajah]] como [[Nababo]] do [[Sultanato Carnático]] e [[Salabate Jangue]] como [[Subá|Subedar]] do [[Decão]], encerrando as [[Guerras Carnáticas]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/> Além disto, neste trecho do tratado, britânicos cedem [[Bengala]] e [[Malabar]] e recebem [[Sumatra]] dos franceses.<ref name="MJPTratadoParis2009"/> 

=== Artigos 12–14: cessões de territórios na [[Europa]] ===
Nos artigos 12 ao 15, o tratado discorre sobre as cessões de territórios europeus entre as partes beligerantes. Este trecho do documento é interessante por demonstrar os pormenores e a complexidade das negociações territoriais, uma vez que grande parte destes territórios não foram o cerne da disputa entre as potências durante o conflito propriamente dito. Os territórios negociados neste trecho do tratado eram reminiscências de disputas dinásticas e expansionistas anteriores, como a [[Guerra dos Nove Anos]] e a [[Guerra dos Sete Anos]]. 

No artigo decimo primeiro, a Grã-Bretanha recebe volta a ilha de [[Minorca]], que havia sido capturada pelas tropas francesas sob a liderança do [[Louis François Armand de Vignerot du Plessis, 3.º Duque de Richelieu|Duque de Richelieu]] em [[1756]]. Minorca e também [[Gibraltar]] haviam sido cedidas pelos espanhóis aos ingleses pelos termos do [[Tratado de Utreque]] em [[1714]] e revelou-se gradualmente uma pressão diplomática para franceses e espanhóis por representar a presença britânica no [[Mar Mediterrâneo|Mediterrâneo]]. Mantida em estado precário nas décadas seguintes como consequência do desinteresse efetivo britânico na região, Minorca foi conquistada pela França na Guerra dos Sete Anos, revelando-se como uma complexa peça de manobra que aproximou a então neutra Espanha do conflito mais direto contra os britânicos.

Nos artigos seguintes, a França foi obrigada a desmilitarizar a cidade portuária de [[Dunquerque]] conforme já havia sido previsto pelo [[Tratado de Aquisgrão (1748)|Tratado de Aquisgrão de 1748]], que encerrou a [[Guerra da Sucessão Austríaca]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/> Além disto, a França também devolveria os territórios ocupados em [[Hesse-Kassel]], [[Ducado de Brunsvique|Brunsvique]] e [[Principado de Eschaumburgo-Lipa|Eschaumburgo-Lipa]] e deveria retirar suas tropas dos territórios pertencentes ao [[Reino da Prússia]], nomeadamente [[Cleves (distrito)|Cleves]] e [[Wezel]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/> Os britânicos, por sua vez, se comprometeram a retirar suas tropas das regiões de [[Baixa Saxônia]] e [[Baixo Reno]].<ref name="MJPTratadoParis2009"/>

== Ver também ==
* [[Colonização francesa da América]]
* [[Colonização britânica da América]]
* [[Império Português]]
* [[Causas da Revolução Francesa]]
* [[Revolução Americana]]
* [[Revolução Haitiana]]
* [[Lista de tratados]]
* [[Proclamação Real de 1763]]
* [[Companhia Holandesa das Índias Orientais]]

{{Notas}}
{{Referências}}
== Bibliografia ==
* {{citar livro
 | ref         = harv
 | sobrenome   = Marston 
 | nome        = Daniel
 | título      = The French–Indian War 1754–1760
 | ano         = 2002
 | publicado   = [[Osprey Publishing]]
 | isbn        = 0415968380
 | local       = [[Londres]]
}}
* {{citar livro
 | ref         = harv
 | sobrenome   = Escott 
 | nome        = Thomas Hay Sweet
 | título      = The Story Of British Diplomacy: Its Makers And Movements
 | ano         = 1908
 | publicado   = [[Kessinger Publishing]]
 | isbn        = 9781164074298
 | local       = [[Whitefish (Montana)|Whitefish]]
}}
* {{citar livro
 | ref         = harv
 | sobrenome   = Conrad
 | nome        = Margaret

 | título      = A Concise History of Canada
 | ano         = 2012
 | publicado   = [[Cambridge University Press]]
 | isbn        = 9780521744430
 | local       = [[Cambridge]]
}}

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